segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Uma carta pra não ser enviada.

   Eu não faço questão que seja você, mas faço questão de me sentir da mesma forma que me sentia quando éramos "nós". Quanto a você, espero que seja feliz, mas quanto a mim, sinto saudades de sentir.

   Existe um problema nisso, depois que dissemos - chorando - "tchau"(por quê?), outras pessoas se esforçaram bastante pra fazer com que eu me sentisse melhor, os beijos e as carícias eventualmente me convencem a me sentir bem, não dá pra negar. Mas quando você tem consciência de que existe um abismo gigante entre se sentir bem e se sentir vivo, você sabe que tem algo errado. Não posso dizer que o abismo tem seu nome, seria injusto atribuir a você tamanha responsabilidade, mas pelo menos no momento resolvi praticar bullying e botei nele um apelido, eu o chamo de pirralha ou girassol.

   Eu sei que o "mundo externo" não pode ser responsável por essa vida interna que devemos fazer brotar individualmente, eu sei. Mas se essa vida precisa ser concebida dentro de nós a ponto de ignorarmos tudo o que vem de fora, qual o sentido? Se todo esse amor deve nascer dentro e antes de qualquer coisa, deve ser próprio, qual o sentido se ele só for próprio? Qual o sentido de sentir tamanho amor e não amar?

   Eu poderia ter feito outra frase, seria mais bonitinha: "Qual o sentido de sentir tamanho amor se você não está nele?", mas não sei se seria honesto comigo mesmo. Até porque, eu não sei se te amo, não poderia afirmar tamanha subjetividade sem estar ao menos olhando nos seus olhos.
Olhos pequenos, levemente puxados, curiosos, que se fechavam devagar a cada vez que eu te tocava.

   O que posso afirmar com toda certeza é que dia sim, dia não, eu lembro de algo engraçado que aconteceu com a gente e acabo rindo, sozinho ou com alguém que não tem seu nome, eu posso afirmar que disfarço e respondo "nada não" quando alguém me pergunta "o que foi?", posso afirmar que passo dias sem lembrar de nós, e de repente toca em algum lugar uma música que dissemos ser nossa ou que te ouvi cantando, posso afirmar que me sinto mal quando vejo alguém se esforçando pra que eu me sinta bem e por mais que consigam, eu sei que "bem" é bem pouco. Eu posso afirmar que lembro da liberdade que senti quando corremos de mãos dadas no meio da rua, de estar deitado com a cabeça no seu colo, olhando seus olhos de baixo pra cima, os mesmos olhos levemente puxados, com nossos dedos entrelaçados. Posso afirmar que nosso abraço era como sentir a paz de espírito materializada em cada célula do meu corpo, posso afirmar que segurar sua mão me trazia alívio e que nosso beijo era como dar um abraço de urso na felicidade.

Quando um pensamento desses invade meu dia sem aviso prévio, é como se Deus dissesse: Lembra disso?
E eu, em silêncio respondo "Sim, eu lembro".

É nesse momento que eu rezo por você, que peço que Ele te proteja, que dê o devido discernimento a você e a todos que te cercam. Peço que você seja feliz, muito feliz.
Continuo a oração e logo depois de agradecer por nós, peço que outros olhos, levemente puxados ou não, me encantem de uma forma que "sentir-se bem", continue sendo bem pouco.

Amém.



(Eider Fabrizio)



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